Os assassinatos de Osage foram um dos crimes mais chocantes da história dos Estados Unidos. Eles revelaram uma trama sinistra para exterminar um povo indígena que havia se tornado milionário graças ao petróleo encontrado em suas terras. Eles desafiaram a capacidade de uma agência federal recém-criada para resolver um caso complexo e perigoso, que envolvia corrupção, violência e racismo.
A nação Osage
Os Osage são um povo indígena que originalmente habitava as planícies centrais dos Estados Unidos, abrangendo os atuais estados de Missouri, Arkansas, Kansas e Oklahoma.
No século XIX, os Osage sofreram com a expansão dos colonos brancos, que os expulsaram de suas terras ancestrais e os forçaram a assinar tratados que reduziam cada vez mais seu território. Em 1870, os Osage se estabeleceram em uma reserva no nordeste de Oklahoma, que parecia ser uma terra árida e indesejada pelos brancos.
No entanto, em 1894, foi descoberto petróleo nessa terra dos Osage, mudando radicalmente a situação da tribo. Os Osage negociaram com o governo dos EUA um acordo que lhes garantia a propriedade e o controle dos direitos minerais de sua reserva, bem como a distribuição individual de lotes de terra para cada membro da tribo. Isso fez com que os Osage se tornassem os donos legais de uma das maiores reservas de petróleo do mundo.
A exploração do petróleo trouxe uma enorme riqueza para os Osage, que passaram a receber royalties milionários pelas concessões de perfuração e extração. Cada membro da tribo tinha direito a uma parcela dos lucros, chamada de “headright”, que era hereditária e inalienável. Em 1923, os Osage receberam cerca de 30 milhões de dólares em royalties, o equivalente a cerca de 400 milhões de dólares em moeda atual. Isso fazia dos Osage a nação mais rica da Terra, com uma renda per capita de mais de 13 mil dólares, enquanto a média nacional era de apenas 750 dólares.
A riqueza dos Osage lhes permitiu adquirir bens e serviços que antes eram inacessíveis, mas também usaram parte de seu dinheiro para financiar projetos sociais e culturais para sua comunidade, como escolas, hospitais, igrejas e museus.
O problema é que a prosperidade dos Osage despertou a cobiça, a inveja e o ódio dos brancos, que viam os indígenas como inferiores e indignos de tanta fortuna. Muitos tentaram se aproveitar dos Osage de várias formas, como fraudes, roubos, extorsões e casamentos interesseiros. Além disso, o governo dos EUA impôs uma série de restrições e regulamentações aos Osage, como a exigência de que eles tivessem um tutor branco para administrar seus bens e negócios. Esses tutores muitas vezes eram corruptos e exploravam os Osage, roubando ou desperdiçando seu dinheiro.
Foi nesse cenário de tensão e conflito que começaram os assassinatos de Osage, que tinham como objetivo eliminar os herdeiros dos direitos sobre o petróleo e transferir suas fortunas para os assassinos ou seus cúmplices. É nesse momento que inicia o Reinado do Terror.
Assassinatos de Osage: Reinado do Terror
Esse foi o período mais sangrento e assustador da história dos Osage. Durante esses anos, dezenas de membros da tribo foram assassinados de formas brutais e misteriosas, sem que os culpados fossem punidos ou sequer identificados. Os assassinatos eram motivados pela ganância e pelo racismo que falamos antes, e contavam com a participação ou a conivência de pessoas que se diziam amigas ou parentes dos Osage.
Um dos casos mais emblemáticos e chocantes foi o da família de Mollie Burkhart, uma mulher Osage que era casada com um homem branco chamado Ernest Burkhart. Mollie era uma das herdeiras mais ricas da tribo, pois possuía quatro headrights, que lhe rendiam cerca de 300 mil dólares por ano. Ela vivia em uma mansão luxuosa com seu marido e seus dois filhos, e era considerada uma mulher feliz e bem-sucedida.
No entanto, sua vida começou a desmoronar em 1921, quando sua irmã mais velha, Anna Brown, foi encontrada morta com um tiro na nuca em um barranco. O crime nunca foi esclarecido, e as autoridades locais tentaram encobrir as evidências. Pouco depois, a mãe de Mollie, Lizzie Kyle, morreu de uma doença misteriosa. Em seguida, sua outra irmã, Rita Smith, e seu marido, Bill Smith, foram mortos em uma explosão que destruiu sua casa. A única sobrevivente foi sua sobrinha, Nettie Brookshire.
Os assassinatos de Osage continuaram por vários anos, sem que ninguém conseguisse impedir ou solucionar. As autoridades locais eram corruptas ou incompetentes, e muitas vezes ignoravam ou sabotavam as investigações. Os Osage viviam com medo e desconfiança, sem saber em quem confiar ou quem seriam os próximos alvos. Foi somente em 1925 que o caso começou a mudar de rumo, quando o Bureau of Investigation entrou em ação e iniciou uma operação secreta para desvendar a conspiração e prender os assassinos.
A investigação do Bureau of Investigation, que na época ainda não se chamava FBI, foi um marco na história dos assassinatos de Osage, pois foi a primeira vez que uma agência federal se envolveu no caso e conseguiu obter resultados significativos. O BOI era uma instituição relativamente nova e pequena, que ainda estava buscando sua reputação e seu papel no cenário nacional.
O BOI entrou no caso a pedido do presidente Calvin Coolidge, que recebeu uma carta de um grupo de líderes Osage pedindo sua intervenção. Coolidge designou o diretor do BOI, J. Edgar Hoover, para liderar a investigação. Hoover escolheu um jovem agente chamado Tom White para ser o chefe da operação.
White montou uma equipe de agentes que se infiltraram na comunidade Osage se disfarçando como fazendeiros, comerciantes, médicos e até mesmo padre. Eles trabalharam de forma secreta e independente, sem contar com a ajuda ou a confiança das autoridades locais. Eles contaram com a colaboração de alguns Osage que se dispuseram a arriscar suas vidas para denunciar os assassinos.
A investigação do BOI enfrentou muitas dificuldades, pois os criminosos eram poderosos e influentes, e tinham muitos aliados e cúmplices. Os agentes foram ameaçados, intimidados e até atacados por pessoas que queriam impedir ou atrapalhar seu trabalho. Eles tiveram que lidar com a falta de provas, testemunhas e registros confiáveis, pois muitos dos crimes haviam sido cometidos há muito tempo ou haviam sido encobertos ou falsificados.
Apesar dos obstáculos, os agentes conseguiram desvendar parte da conspiração e prender alguns dos culpados. Eles descobriram que William Hale era o mentor dos assassinatos da família de Mollie Burkhart, e que ele tinha como cúmplices seu sobrinho Ernest Burkhart, seu empregado Kelsie Morrison e seu amigo John Ramsey. Eles também descobriram que Hale tinha envolvimento em outros assassinatos de Osage, como o de Henry Roan, um rico herdeiro que foi morto com um tiro na cabeça por Ramsey.
Assim, os agentes conseguiram obter as confissões de Morrison e Ramsey, que implicaram Hale e Ernest como os mandantes dos crimes. Com essas provas, eles convenceram Mollie Burkhart a testemunhar contra seu marido e seu cunhado.
Eles revelaram que sua irmã Anna Brown tinha sido morta por eles, assim como sua mãe Lizzie Kyle que havia sido envenenada por arsênico. A explosão na casa que matou sua outra irmã, Rita Smith e o marido Bill, também foi obra deles. Até mesmo sua sobrinha que, apesar de ter sobrevivido, estava sendo envenenada.
E por falar em veneno, a própria Mollie chegou a apresentar perda de peso, fraqueza e dores. Nessa época, ela estava sendo envenenada por seu marido sob as ordens de William Hale também.
Hale se autodenominava o “Rei do Osage Hills”, pois possuía muitas terras e negócios na região. Ele era considerado um amigo e protetor dos Osage, mas na verdade era o mentor da conspiração para matar os herdeiros dos direitos sobre o petróleo e ficar com suas fortunas.
Além dos Osage, eles mataram pessoas que podiam atrapalhar seus planos, como advogados, contadores, testemunhas e informantes. Além disso, eles se aproveitavam das leis racistas que permitiam que os brancos herdassem os headrights dos Osage se fossem seus cônjuges ou tutores.
Com todas as evidências que conseguiram, a equipe do BOI levou os quatro acusados a julgamento em 1926.
Julgamento
O julgamento foi um evento histórico, que atraiu a atenção da imprensa nacional e internacional. Os advogados de defesa tentaram desqualificar as provas e as testemunhas do BOI, usando argumentos racistas e preconceituosos contra os Osage. Eles também tentaram manipular o júri, que era composto apenas por homens brancos. No entanto, o promotor federal W.H. Robnett conseguiu apresentar um caso sólido e convincente contra os réus.
O resultado do julgamento foi a condenação de Hale, Ernest, Morrison e Ramsey à prisão perpétua pelo assassinato de Henry Roan. Hale também foi condenado à morte pelo assassinato de Rita Smith, mas sua sentença foi posteriormente comutada para prisão perpétua. Os outros assassinatos da família de Mollie Burkhart não foram julgados por falta de provas suficientes.
A investigação do BOI foi considerada um sucesso parcial, pois conseguiu prender alguns dos principais envolvidos nos assassinatos de Osage e encerrar o Reinado do Terror. No entanto, muitos outros crimes ficaram sem solução ou sem punição, pois havia muitos outros cúmplices e suspeitos que nunca foram identificados ou capturados. Além disso, os Osage continuaram sofrendo com as consequências dos assassinatos em sua comunidade e em sua relação com o governo dos EUA.
Histórico do Assassinatos de Osage
Os assassinatos de Osage tiveram um impacto profundo e duradouro na nação Osage e na sociedade americana, mas também geraram iniciativas de memória e de justiça que foram realizadas pelos Osage e por outras organizações. Uma dessas iniciativas foi a criação de um museu dedicado à história e à cultura dos Osage , que inclui uma exposição sobre os assassinatos e suas vítimas e diversas obras sobre a cultura do povo. E, claro, tivemos a publicação do livro “Assassinos da Lua das Flores: os assassinatos de Osage e o nascimento do FB”, escrito pelo jornalista David Grann, que se tornou um best-seller do New York Times e foi indicado para vários prêmios literários. Esse livro foi o que inspirou o filme de mesmo nome de Scorcese.
Essas iniciativas objetivam preservar e divulgar a memória dos Osage, reconhecer e honrar as vítimas e seus familiares, denunciar e combater as injustiças e as violências que os povos indígenas sofrem nos Estados Unidos, e contribuir para a educação e a conscientização da sociedade americana sobre esse episódio pouco conhecido, mas muito importante, da sua história.
Conhecia esse caso que criou o famoso FBI? Me conta nos comentários o que achou do filme ou do livro, caso já o tenha lido.
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